18 de maio de 2010

Thuru, thuru thuru.

Minha mochila (onde eu carregava coisas, roupas, histórias e mentiras) já estava toda pronta e enfiada a algumas semanas debaixo da cama, até que, enfim, fui. Não, não era falta de coragem o motivo de adiar a ida inúmeras vezes, era só a estranha impressão, de que tudo seria tão tremendamente diferente, que me abatia. Mas tive certeza que deveria ir, naquele 6 de maio daquele ano, às 7 da manhã.
Me certifiquei de que o passaporte e as carteiras de identidade [a verdadeira e a adulterada] estavam bem postas no bolso, dentro da carteira, juntamente com toda a quantia de dinheiro que consegui juntar [e pegar emprestado por tempo indeterminado...] desde que tomara minha decisão. E após deixar a breve carta de despedida para minha mãe e, por conveniência, àquele porre com quem se casara [tão porre quanto ela, é claro], saí de fininho pela porta de tras, para, esperando eu, não voltar nunca!
Nem acreditava que estava mesmo deixando tudo! Deixava todos os bens que me eram dados, deixava minhas oportunidades, deixava até mesmo o que era denominado de "meu namorado". Deixava tudo! Era excepcionalmente extasiante para uma adolescente que acabara de completar os estudos, no auge dos seus 17 anos!
Cheguei no Aeroporto e fui direto para a sala de embarque internacional, tinha finalmente achada alguma utilidade para a minha cidadania portuguesa. Ah, a Europa agora me aguardava!
Depois de o que me pareceu um zilhão de horas de viagem, sentada naquela poltrona desconfortável da classe econômica [para não dizer pobre! mas era a única que podia pagar, é claro] desci em Lisboa e fui direto para o saguão do aeroporto, já que minha única bagagem estava em minhas costas.
Não demorou muito para que eu conhecesse meu acesso a tudo na Europa: Etan e Betsy. Conheci-os um dia depois que cheguei, e no outro, já estava embarcando clandestinamente com eles em um trem para a Inglaterra!
Nossa errônea jornada foi repleta de aventuras, dirverssões, furtos, garrafas de bebidas que nem lembro e cigarros de várias marcas. A alternativa banda [e bando também] em que ingressei era frenéticamente chamada a diversos pubs pelas soturnas ruelas de Londres.
Lembro-me com prazer e euforia das bebedeiras e festas em que sempre íamos. E eles me adoravam certamente, a Brasiliana como me chamavam!
Passei por coisas boas e ruins, por aventuras e desventuras, por aparições e sumiços, por cadeias e manssões. A vida é bela e vivi [todas as sete vidas que ninguém além de mim sabia!] com gosto, experimentando o paraíso em comprimido, por que tudo era muito melhor quando era ilegal ou proibído. E eu sentia o vento soprar, e eu só queria dançar. Todos me diziam que o mundo iria acabar, mas de qualquer forma eu só queria dançar, dançar, dançar.
Por que afinal, a partir do momento em que fugi de casa, as 7 da manhã, deixei de ser Ana Paula para me tornar Natasha, é, aquela louca de salto 15 e saia de borrahca, de cabelo verde e tatuagem no pescoço!
E os pneus de carros continuam cantando: thuru, thuru, thuru, thuru...



Nota: Texto inspirado [como se ainda não desse pra perceber] na música Natasha-capital inicial.
Beijinhos, Grafin

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