24 de março de 2011

Não enquanto eu estiver aqui



Nada lhe afligirá, não enquanto eu estiver aqui. Nada lhe machucará, não enquanto eu estiver aqui. Sim, os demônios e males continuarão a nos rondar, mas não temas, pois eu os espantarei refletindo com as minhas faces de diamante a luz que emana de ti.
Eu continuarei andando, quanto a ti... Repouse tua cabeça em meu ombro e descanse os olhos desta vez. Durma e comece um novo sonho. Sonho por nós. Sonhe que conseguiremos ir adiante. Sonhe que nós voaremos para o local maravilhoso aonde os anjos fazem ouvir o farfalhar de suas asas. Deixa-te guiar pela canção de ninar que as estrelas sussurram docemente em teus ouvidos, siga a trilha fiel da lua e flutue até lá. E me diga então para aonde devemos ir. Mas apenas feche os olhos agora, nada irá lhe ferir.
Por vezes eles tentarão a encantar-te com um sorriso de falsete maléfico nos lábios, no entanto não tenhas medo, pois com o tempo nada poderá prejudicar-te, não enquanto eu estiver por perto. E se eu subitamente parecer tão longe, cante para mim, pois tua voz transcenderá as léguas e me despertará, e eu retornarei a ti, ao acalento de teus olhos e ao reconforto de teu sorriso.
Quando acordares, guarda no fundo do baú seguro de tua alma a inocência dos contos de fada e recorda-te de quando os céus acariciavam tua face. Arma-te com sabedoria e destreza, e protege-te com fé e perseverança. Então, juntos, seguiremos em frente, e eles não mais poderão nos reprimir. Lutaremos lado a lado pelo prêmio perene do qual somos herdeiros.
E no momento em que as pernas estiverem inertes e os joelhos baterem contra o chão, só o espírito nos sustentará a existência. Ao longe veremos o ponto luminoso, e a esperança nos moverá rastejantes em direção aos portões dourados da glória. Teremos enfim chegado, e não mais nos preocuparemos com males e monstros, com mentiras e dor, com julgamentos e fúria. Estaremos livres, livres para o doce resguardo da eternidade.
-Mas não temas e sonhe, pois enquanto eu estiver aqui nada poderá te machucar-
(Inspirado em “Not while i’m around”- Jamie Cullum e “ A final dream” – Nightwish)

13 de março de 2011

Corra por nós




Estou cantando, querida – ainda estou cantando a ti pela última vez. E quando a canção tiver seu fim, teremos de partir. Mas nunca te esqueças... nunca te esqueças que no mar de atos injustos e palavras impensadas, tu foste aquilo no qual pensei e me doei, do qual não me arrependo ao olhar para nossas pegadas. Foste a única palavra doce e o único gesto preciso de afeto, inspirado em tantos outros gestos teus.
E agora, mal consigo encarar-te. Não sou capaz de erguer o olhar e ver meu reflexo nos teus olhos que projetam minhas faces imprestáveis e repulsivas, aquelas das quais nunca deste por existir mesmo te matando aos poucos. Não sou capaz de fitar com vergonha dentro de ti o espelho de todos meus erros em meu acerto primo. Mas cada vez que derroto minha covardia e levanto a cabeça, torno a me perder nas duas janelas verdes que não me julgam- nunca me julgaram- e sei que iremos nos reencontrar em qualquer lugar longe daqui.
Anima-te, querida... Anima-te e me abraces forte, pois eu prometo que correremos pela vida que não tivemos. Dê-me a tua mão pela última vez e corra comigo por todos os momentos em que decidimos a ficar parados e deixar nosso precioso bem esvair-se. Corra comigo enquanto há tempo, querida.
Tenha força, anjo... Nós estamos destinados a ter medo e mergulhar em sinfonias apavorantes de agonia para compensar as faltas que cometemos aqui. Mas não percas a força, não percas a fé. Sinta outra vez meu coração bater na mesma intensidade do teu e torne a viver, torne a respirar as aspirações para teu futuro e não te deixes cair.
Sim, meu bem, a canção está chegando ao fim... mas por favor, não chores mais... Enxuga as tuas lágrimas da desesperança e não tornes a chorar. Não temos mais opções, querida, temos que ir... Não temas, pois mesmo que não possas mais ouvir minha voz e tocar minhas mãos, eu sempre estarei ao teu lado em espírito. Mas não vá tão rápido, deixe-me ao menos guardar em minha memória a lembrança do fio de vida que um dia valeu a pena, deixe-me registrar a melhor de minhas lembranças como uma tatuagem permanente na consciência.
Eu choro e sangro, e continuarei a sentir por algum tempo, mas sei que ficarás bem e que em algum momento também não mais sangrarás e as feridas enfim cicatrizarão, segure minha mão mais alguns segundos e não te esqueças... não te esqueças que aonde for, eu estarei ao teu lado, mesmo que não consigas mais me ouvir... Agora corra, querida, corra em busca de luz e piedade... corra pela tua vida pois eu já não posso correr...
Corra pelas nossas vidas- pelas nossas novas vidas- Até logo...


(Inspirado em “Run”- snow patrol )

11 de março de 2011

Não me deixa ir



E toda vez que olho para trás, vejo apenas as pegadas já semi-ocultas dos melhores dias da minha vida cobertas pela minha própria sombra que inibe o sol.
E toda vez que paro por alguns segundos, sou interceptada pelas saudades daqueles que nunca conheci, pelas lembranças dos lugares que nunca visitei.
Quando me perco olhando o encontro deslumbrante do céu e mar no horizonte, recordo as fotos do verão de promessas que não tivemos, e meu rosto torna a ser afagado pelos flocos de neve da memória do inverno gelado de mágoas para o qual fomos sem olhar pela janela, perdendo-nos na linha do equilíbrio.
Tu prometeste que toda a magia iria chegar com o tempo, mas onde estavas quando as horas correram tão rápidas e a mágica escorreu por entre meus dedos sem que eu percebesse?
Erramos, falhamos e tornamos a nos enganar achando que poderíamos segurar os ponteiros do relógio e congelar a realidade para adequá-la aos nossos caprichos. Mas esta se mostra ainda mais cruel e leva consigo nossos modestos acertos e os minutos de dignidade que nos resta.
Mas e se tu pudesses voltar nos segundos, andando na linha pelo avesso? Serias mesmo capaz de mudar o rumo de tua vida a fim de justificar ou evitar teus erros? Ou temerias perder teus poucos acertos e conceber ainda mais erros?
Se nós pudéssemos voltar atrás mais uma vez... eu mudaria nosso verão e tiraria as fotos para guardar de recordação as promessas agora cumpridas. Não mais olharia para trás e veria apenas pegadas; passaria a enxergar as exuberantes fortalezas que talhamos na estrada de nossas vidas. Eu não teria saudades das pessoas e lugares que não conheci, pois os iria conhecer. Não mais teria os arrependimentos de hoje.
Aí sim... aí sim a magia existiria, e mesmo que não conseguíssemos reter o tempo, poderíamos segurá-la com nossas mãos unidas e fazer o tempo ter tempo, criar tempo para que pudéssemos sorrir, sentir, viver... outra vez.
E se tivéssemos mais tempo... a magia e o verão existiriam.
Mas o tempo não me deixa ir... mas tu não me deixas ir.


(Inspirado em “time won’t let me go” – The Bravery)

9 de março de 2011

Reis e rainhas



E lá estávamos nós, imersos dentro da escuridão da noite. Apenas tapamos os ouvidos e cobrimos os olhos com a venda da ignorância... Não escutamos o que os outros haviam dito. Mas quem poderia nos culpar quando tantas outras vozes insistiam em gritar dentro de nossas mentes e confundir-nos os sentidos a cada novo som de espadas se chocando, a cada novo rilhar de dentes, a cada novo marchar de pés que caminhavam para a luta armados de vingança e hostilidade?
Ninguém poderia nos julgar por sermos os sucessores apoiados nas promessas daquele dia que nunca chegou. Nas promessas ouvidas quando ainda éramos crianças de que futuramente as trevas se dissipariam. Nas promessas inseminadas em nós pelos que foram os primeiros a se render, que sempre foram vítimas dos sacrifícios e dores internas, vivendo dentro de suas mentiras e hipocrisias.
Mas em um ato de desespero e desilusão, nós acabamos por roubar nossas próprias vidas de nós mesmos e as entregamos pelo sangue e pela dor, acorrentamo-nos a falsos valores e a novas falsas profecias. Mas quem poderia nos culpar? Éramos ainda aquelas crianças, éramos ainda nossas vítimas...
E então aquela era pareceu findar-se, teve fim quando tudo ficou escuro a ponto de nada conseguirmos enxergar mesmo que tivéssemos tentado tirar as vendas que obstruíam nossos olhos. E todas as lições que um dia a nós foram ensinadas pareceram simplesmente supérfluas e vagas demais para nos ter alguma utilidade.
Foi exatamente este o momento... foi lá que, um a um, nós clamamos por piedade e esperança, foi aonde rastejamos em busca de luz e glória, foi quando tiramos as correntes invisíveis do medo que nos prendiam ao chão e arrancamos as faixas que nos impediam de enxergar a realidade, destapamos os ouvidos e estivemos abertos a ouvir a verdade. Foi a hora em que percebemos que as lições estavam apenas começando, e elas surgiam das trevas, mas passo a passo encontrar-se-iam na luz.
Foi ali... Foi ali que percebemos que a escuridão era sim assustadora e que se quiséssemos vencer a batalha, necessitaríamos de sabedoria e força; mas também que bastava-nos coragem para erguer-nos em nossas pernas bambas e frágeis, bastava a nós firmar os pés no chão e respirar fundo, e então caminhar adiante e retornar ao posto de, entre o céu e o inferno, reis e rainhas-não vítimas- de nossas vidas.


(Inspirado em "Kings and queens"-30 seconds to mars)

8 de março de 2011

Quando as estrelas estão tristes



E quando tu estás triste, aonde vais?
Tu danças nos teus passos em falso, colocando-te nas pontas dos pés e desatando a rodopiar, atraindo toda a atenção para tua valsa e escondendo todos os resquícios de qualquer dor desatinada.
Tu bailas ao longo da estrada, sapateando nos teus calçados de madeira e mascarando com teus saltos os sons de teus suspiros e soluços sufocados.
Tu caminhas em meio às sombras, e a cada novo foco de iluminação, colocas rapidamente teu sorriso nos lábios, até que retornes à escuridão e possas enfim portar a expressão triste por mais uma vez.
Então tu começas a rir com a tua boca linda, deixando que dali saia apenas gargalhadas e enterrando cada vez mais o teu grito já esmagado de desespero.
Então tu começas a cantar com tua língua apaixonada aquela canção de ninar outra vez, tentando a todo custo encantar aos outros e entorpecê-los dentro da sinfonia doce e aconchegante, enquanto enganas a ti, retendo as tuas lágrimas de novo e trancafiando-as no fundo dos teus olhos já quebrados.
Mas chegará o tempo em que a melodia cessará, chegará a hora em que a estrada estará a todo momento clara. Tu não terás o subterrâneo para transpor tua agonia, tu não terás os sapatos para esconder o som de teus soluços, nem tampouco os sorrisos e a canção para reter tuas lágrimas.
E então tu terás vontade de gritar e não mais poderás contê-la. Tu terás vontade de correr, de fugir, de sumir. Tudo ficará escuro demais, gelado demais, calado demais. Será cruel ao teu espírito frágil e à tua alma desolada.
E quando tu estiveres sozinho, aonde vais? E quando estiveres triste, aonde vais?
Porém quando o mundo estiver pintado das cores do vazio e do assustador, peço que tornes a te revestir de coragem e não mais tenhas medo. Que tu olhes para cima e encare a escuridão como se a lua ainda brilhasse lá no alto. Peço que enlace de novo teus sapatos de madeira e com eles siga adiante.
Apenas lembre-se... Lembre-se que não importa aonde irás e nem por qual estrada seguirás. Não fará diferença se a chuva salpica as costas o se o sol faz arder à face. Não terá distinção se claro for o dia ou se calada e sombria for a noite. Tudo é supérfluo demais pois eu continuarei a te seguir... E até mesmo quando as estrelas começarem a cair, eu estarei lá...


(Inspirado em "When the stars go blue" - Bono and The corrs)

2 de março de 2011

Sonhe, isso basta.




Já estiveste longe do caminho?... Sim, exatamente quando, mais uma vez, eu desviei do meu, envolvida em te achar nas entrelinhas de algum dia.
Já te sentiste distante de mim?... Sim, no instante em que meu amor parara de pulsar e repousara soturno dentro do peito agora quieto.
Foi por ti... foi por ti que eu mergulhei entregando-me ao naufrágio do medo para que pudesses emergir do mar de dor e desespero aonde estavas. Foi por ti que ofereci o lenço de minha sanidade, para que pudesses enxugar as lágrimas de teu fracasso. Foi à ti que direcionei a minha glória e honra.
E eu só pedi que saísses... saísses da escuridão enquanto eu te estendia as mãos que te guiariam de volta à luz. Que viesses comigo ao menos daquela vez. Que estivesses comigo.
Foi tudo o que eu pedi, e eu te puxei de lá e me coloquei no teu lugar, erguendo os portões sobre os ombros já destruídos para que tu pudesses fugir e seguir em frente. Fugir de todo repúdio e humilhação, deixando que tua culpa cascateasse sobre mim.
Mas será que... será tu farias o mesmo por mim? Será que tu curarias as minhas feridas e transformarias as cicatrizes em estrelas que te exigiriam o sangue? Tu serias capaz de me libertar para o paraíso que te custaria a alma?
Não te pedirei nada... não te pedirei as estrelas que outrora foram cicatrizes, não te pedirei que me ofereças acalanto quando a dor me corroer, não te pedirei que tenhas pena e me carregue nos braços quando minhas pernas quebrarem. Não te pedirei que permaneças perto. Esteja longe –comigo ou sem mim... Mas sonhe...
Sonhe, querido, sonhe comigo. Esteja comigo no calada da noite e no resguardo de tua mente. E quando te reergueres da desesperança, retorne às curvas sinuosas do destino em busca de mim...pois tu sempre foste a razão e o maior dos meus sonhos. Apenas sonhe... repouse tão profundamente e sonhe comigo... desta vez.
-Tu já sonhaste comigo?...-



(Inspirado em "Ever Dream" - Nightwish)

1 de março de 2011

Rendição.



Acorrentamo-nos achando que seriamos livres. E o que, a nós, antes era o maior dos bens, agora está caído na terra, inerte. Foi esse o preço por brincar com fogo quando a consciência momentaneamente fugiu-nos da cabeça?
E eu achava que ambos éramos espertos demais para nos subjugarmos ao truque tão antigo que nos trouxe aqui...
Fomos nós... fomos nós a nos atear fogo quando, cúmplices, selamos a sangue o contrato que nos prendia e infiltrava-nos nesta rede de mentiras e desarmonia.
Fomos nós a estarmos em todos os lugares mais obscuros e distantes, na busca cobiçosa e ociosa por poder e impunidade a qualquer custo, nos tornando- aos poucos- receptáculos de esmolas das nossas próprias injúrias e ambições pretensiosas.
E enquanto avançávamos mais a frente, eu olhava de relance o reflexo de todo o medo interno que me encarava e acanhava do espelho, quase invisível, com olhos fugidios que brilhavam e reluziam de algum lugar do passado tentando a recordar-me do que, um dia, fomos.
Mas eu não prestei atenção... não atentei aos apelos de meus “eu’s” passados. Porque estávamos ocupados demais correndo rumo ao destino do qual nos arrependeríamos depois. Não prestei atenção quando eles pediram que reduzíssemos a velocidade e, lentamente, voltássemos.
Nós apenas corríamos e corríamos, ignorando os olhares que cruzavam astutos, curiosos e preocupados com os nossos. E eles apenas tentavam nos avisar que chegaríamos a este ponto, onde a dor não mais iria passar, onde de nada adiantaria a cobiça e o poder, onde só restaria medo e desespero.
Então nós chegamos, chegamos a este infame destino que nós mesmos escolhemos e traçamos, chegamos ao fim de nossas próprias covas que cavamos milimétrica e detalhadamente. E percebemos tarde demais.
Mas será... será que no momento da rendição ainda existirá alguma esperança? Será que no momento do julgamento ainda existirá piedade? Será mesmo que em meio à escuridão poderá surgir um foco de luz?
Sim, é esta a hora, e enquanto somos olhados sob pena daqueles que por muito tentaram nos alertar, permanecemos acorrentados às nossas escolhas- agora não sendo mais uma escolha, e sim uma conseqüência- e nos dignamos a esperar... esperar que a dor nos corroa mais e mais até o ponto aonde não haja mais dor. Esperar pelo momento da rendição. Esperar por piedade. Esperar por luz...

(Inspirado em “Moment of surrender” – U2)