31 de julho de 2011

Fable of Fire - part 1


“ (...) – Eu sei o que tu serias sem mim, portanto não te perguntes. Serias a mulher mais forte e destemida; valente e desejada. Serias a mulher que és. E eu seria só um moleque, que até tentaria... mas não conseguiria achar aquela que me faria tão completo como só tu fazes. – Disse-lhe ele em um sorriso e a tomou nos braços, domando-lhe os lábios dela com os seus.
– Não, te confesso que eu não! Não me seria possível ser assim tão ‘eu’ se não tivesse ‘tu’. És tu o que me motivas a ser o que sou! – Ela sorriu boba e aconchegou-se nos braços do marido.
Observou-o lhe tocar a barriga de já 5 meses e sorriu para ele – Não acredito que aí dentro existe um serzinho que eu ajudei a fazer! – ele murmurou, e ela balançou a cabeça feliz para, refletindo sobre aquilo.
– Sim, claro que há! E será a coisa mais linda do mundo! – dizia a mulher em sobressalto.
No entanto, quando o focou deparou-se com aquela expressão que lhe afligia estampando o rosto dele. O sorriso de ambos já não estava ali.
Ela tentou tocar-lhe, mas ele esquivara-se e sentara-se na cama. Ela sentou-se em seguida, a tempo de ver uma lágrima que rolava pela face de barba mal feita do marido, antes que ele levantasse e seguisse até o banheiro.
A mulher passou a mão na testa e apertou os lábios em agonia, enquanto no outro aposento um homem vestia-se às pressas. O olhava triste da cama ao passo que ele retornava. A moça fazia que não com a cabeça, a implorar-lhe que não; a suplicar-lhe que não. Mas ele apenas ajoelhou-se ao lado dela e lhe beijou a barriga, tentando ignorar o letreiro de pensamentos que, como presságio, o avisava que ficaria distante. Ela sentiu o beijo e lhe afagou os cabelos.
O marido pigarreou e, tristemente, começou a lhe recitar um trecho de uma história:
“...Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. E então será maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...”
Ela suspirou e fechou os olhos com força. Prometeu a si mesma que não choraria, entretanto a promessa já havia sido quebrada dentro de seu peito; não chorava pelos olhos, mas o coração lastimava, sangrava, gritava e penava. Colocou uma das mãos sobre a boca, tentando piamente impedir que dali, entre soluços, esvoaçasse palavras em súplica para que ele não se fosse. Encarou-o com os olhos marejados e desiludidos e balançou a cabeça positivamente, atestando que entendia.
Ele lhe tocou a face, desenhando os traços finos com o indicador – Eu amarei o barulho do vento nos teus cabelos – confessou em um sussurro sofrido. – E eu esperarei vento soprar... – Ela conseguiu dizer entrecortado, tentando não sentir a ferida que se abria no peito. Encostou a sua testa na dele e fechou os olhos, e nesse instante ele a beijou. Ela reabriu os olhos e tentou abraçá-lo, segurá-lo. Mas tudo o que viu foi uma imagem bruxuleante que se desfazia em poeira e lhe dizia um adeus inaudível em meio as lagrimas. Ele Sumira.
O homem, o seu homem, não estava mais lá, havia ido embora outra vez. Ela viu-se sozinha no quarto e constatou que não existiam mais motivos para se fazer tão forte, se todas as suas forças se desfizeram em uma imagem delgada que evaporou. Ela ergueu as pernas e abraçou os joelhos desolada, destruída. Depois olhou ao redor tentando a enxergá-lo outra vez: no reflexo do espelho, na sacada do quarto, no espaço vago na cama. Nada. Já não podia conter as lágrimas, já não queria contê-las. Jogou-se de bruços sobre o lençol e abraçou o travesseiro em um desejo dúbio de reavê-lo. Mas não era ele. E ela chorou. Chorou e chorou. Chorou sentindo o cheiro dele na roupa de cama, os lábios dele em seus lábios, os braços dele em contanto com seu corpo. Chorou até não poder mais, até perder os sentidos.
Então sonhou... Sonhou que ele ainda estava ali... (...) “

(Um trecho meu de uma história de fogo)

5 comentários:

  1. Qual a novidade em dizer que está ótimo, lindo e muito bem escrito?XD Tudo que faz é sempre assim!
    A prova disso é que grande parte dos teus textos conseguem me arrancar lagrimas =D Sou fragil por dentro, e não me envergonho de dizer que choro quando leio algo que me toca, principalmente porque levo isso como patamar de qualidade. Se a cena era para ser profunda, era para envolver o leitor e não conseguiu balança-lo, então o escritou fracassou em seu objetivo. Mas você sempre o consegue. Meus parabéns!^^ Espero que continue sempre assim e quero logo o livro!uú e com a DEDICATORIA! OÓ hohohoho S2

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  2. Tenho mania de absorver tristeza de textos, filmes ou situações. Mesmo que não sejam comigo, mesmo que não seja parecido com algo que eu tenha vivido. Eu apenas coloco-me de tal forma no lugar das personagens que simplesmente sofro tanto quanto.
    Um dos maiores medos que eu tenho é o de ter um amor e de não conseguir vivê-lo, existe coisa mais triste?
    Seu texto me fez sofrer um pouquinho, mas acima disso ele me fez sentir. Você sabe o que isso significa? Sabe a reponsabilidade de ter essa mágica nas mãos? O poder de emocionar as pessoas, de fazer com que elas sintam mesmo sem está vivendo. É isso que você faz! Você confunde o viver e o ler.
    Obrigada por essa e outras sensações, essa e outras leituras.

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  3. Espero que aconteça, mas não comigo...rsrsr

    Lindo texto...vc sempre maravilhoso em seus escritos...abraço

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  4. Maravilhoso demais.

    A partida de quem se ama sempre é triste, mas prepara a alegria da volta, caso ele volte.

    Beijos

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"Escrevo em linhas tudo aquilo que, nas entrelinhas, a alma quer dizer; tudo aquilo pelo qual palpita o coração"
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