9 de março de 2011

Reis e rainhas



E lá estávamos nós, imersos dentro da escuridão da noite. Apenas tapamos os ouvidos e cobrimos os olhos com a venda da ignorância... Não escutamos o que os outros haviam dito. Mas quem poderia nos culpar quando tantas outras vozes insistiam em gritar dentro de nossas mentes e confundir-nos os sentidos a cada novo som de espadas se chocando, a cada novo rilhar de dentes, a cada novo marchar de pés que caminhavam para a luta armados de vingança e hostilidade?
Ninguém poderia nos julgar por sermos os sucessores apoiados nas promessas daquele dia que nunca chegou. Nas promessas ouvidas quando ainda éramos crianças de que futuramente as trevas se dissipariam. Nas promessas inseminadas em nós pelos que foram os primeiros a se render, que sempre foram vítimas dos sacrifícios e dores internas, vivendo dentro de suas mentiras e hipocrisias.
Mas em um ato de desespero e desilusão, nós acabamos por roubar nossas próprias vidas de nós mesmos e as entregamos pelo sangue e pela dor, acorrentamo-nos a falsos valores e a novas falsas profecias. Mas quem poderia nos culpar? Éramos ainda aquelas crianças, éramos ainda nossas vítimas...
E então aquela era pareceu findar-se, teve fim quando tudo ficou escuro a ponto de nada conseguirmos enxergar mesmo que tivéssemos tentado tirar as vendas que obstruíam nossos olhos. E todas as lições que um dia a nós foram ensinadas pareceram simplesmente supérfluas e vagas demais para nos ter alguma utilidade.
Foi exatamente este o momento... foi lá que, um a um, nós clamamos por piedade e esperança, foi aonde rastejamos em busca de luz e glória, foi quando tiramos as correntes invisíveis do medo que nos prendiam ao chão e arrancamos as faixas que nos impediam de enxergar a realidade, destapamos os ouvidos e estivemos abertos a ouvir a verdade. Foi a hora em que percebemos que as lições estavam apenas começando, e elas surgiam das trevas, mas passo a passo encontrar-se-iam na luz.
Foi ali... Foi ali que percebemos que a escuridão era sim assustadora e que se quiséssemos vencer a batalha, necessitaríamos de sabedoria e força; mas também que bastava-nos coragem para erguer-nos em nossas pernas bambas e frágeis, bastava a nós firmar os pés no chão e respirar fundo, e então caminhar adiante e retornar ao posto de, entre o céu e o inferno, reis e rainhas-não vítimas- de nossas vidas.


(Inspirado em "Kings and queens"-30 seconds to mars)

Um comentário:

  1. E tanto o céu quanto o inferno estão quase sempre à distância de apenas um passo.
    GK

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"Escrevo em linhas tudo aquilo que, nas entrelinhas, a alma quer dizer; tudo aquilo pelo qual palpita o coração"
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