14 de julho de 2011

I'm looking at you


Eu te observava pelo lado oposto da janela, perdida nos meus devaneios enquanto tu te perdias em algum lugar lá fora. Não me pergunte, não sei quanto tempo se passou desde que estive a olhar por ti; e mesmo que eu não tenha notado o ponto exato no qual os segundos transmutaram em horas, e as horas nomearam-se “pra sempre”, sei bem que ninguém nunca te disse que o “pra sempre” se parecia tanto com a nossa antiga casinha de verão.
Queria perguntar como te sentes, sei que é essa a chave. Mas não espero que me respondas tão fácil. Não enquanto temes tanto virar uma marionete dos teus medos de “lá fora”; ao ponto que olhas para dentro e vês pela janela as sombras enganosas que as luzes mostram na parede, contando o contrário do que realmente é.
Então é tua vez. Tu te perguntas até quando tudo é real, até que ponto foi real. Apavora-te com os ruídos que agora parecem estrondos, passos a alguns metros de ti. Sofres com o vento frio que te machuca a face e te causa calafrios. E enfim olhas para a noite, e percebes que aquelas estrelas que certa vez brilharam pra ti, são as mesmas que a ti mentiram. Desmoronas, fincas os joelhos com força no chão e abaixas a cabeça, domado pelo pavor.
Mas, em um lapso, o cenário muda. Estás outra vez nos vales, e às margens do rio está nossa casinha de verão. A janela está aberta, como braços para te reconfortar em um abraço. Tu não tens mais o que temer com dias tão claros e ares tão frescos. Não enquanto a janela estiver aberta. E tu acordas, acordas do pesadelo vivo e te ergues do chão deixando as sombras para trás.
Enxergas logo ali aquela mesma casinha – a nossa casinha, intacta por tantos e tão longos “pra sempre”. Não te deixes enganar novamente pelas penumbras, projeções falaciosas da verdade. Não te deixes deslumbrar pela aparência, só está diferente de como te recordavas. Tome fôlego e vá em frente. Siga para a janela e cole o rosto no vidro. Encare sem temer. Abra os olhos e veja... Veja que enquanto estiveste lá fora tão distante e tão perdido, era eu que olhava por ti pelo lado oposto.

(inspirado em "Through the glass" - Stone sour)

#NOTA: Sem sentido? Talvez. Muito provavelmente. Mas quem disse que precisava ter sentido?

3 comentários:

  1. Eu te observava pelo lado oposto da janela, perdida nos meus devaneios enquanto tu te perdias em algum lugar lá fora.


    As palavras nas mãos dos mestres se tornam sentimento.

    Sem comentários.

    Abraço

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  2. Eu acredito que suas palavras sempre vem daqueles sentimentos que a gente fala: "Não é amor mas não é ódio. Não é esquecimento mas também não é presença"; ou seja, aquelas sentimentos que não são nomeados ainda. Essa janela já me separou muitas vezes de quem eu amava... Pra mim fez sentido, sim!

    Um beijo!

    @biacentrismo - http://biacentrismo.blogspot.com

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  3. Eu sinto falta de alguém que preenchesse todas as lacunas que o sofá preenchia pra mim. Você foi uma das poucas pessoas que entendeu, haha.
    Um beijo ! @biacentrismo - http://biacentrismo.blogspot.com

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"Escrevo em linhas tudo aquilo que, nas entrelinhas, a alma quer dizer; tudo aquilo pelo qual palpita o coração"
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