6 de junho de 2011

Estrelas que se doam


Os pés da garotinha balançavam centímetros acima do chão, sem tocá-lo devido à baixa estatura. Os olhinhos verdes fitavam a mesa e o dedinho alvo percorria as ranhuras da madeira já desgastada.
Uma mão quente e reconfortante lhe tocou então o ombro, chamando-lhe a atenção. E agora duas petecas azuis fixavam-se nela como se lhe perguntassem o que havia, e ela apenas recolheu os ombros.
Nada foi dito, nada precisou ser dito. O homem com aparência de papai-noel – sim, para ela ele lhe lembrava o bom velhinho que, caso fosse uma boa garotinha, lhe concederia os presentes que pedisse no fim de mais um ano – sentou-se ao lado dela.
-Deixe-me lhe contar um segredo – disse o homem – quando te sentires triste e sozinha, não chores, do contrário: erga a cabeça e olhes para o céu. Ali existem milhões de estrelas que brilham puntiformes – contou-lhe e apontou para a manta negra que exibia suas contas de diamante lá em cima – Como podes ver, muitas são as estrelas vistas daqui; mas se cada uma delas olha para os lados, não enxerga nada senão um enorme vazio: escuro, frio e assustador; e dessa maneira sentem-se cada vez mais sozinhas. No entanto, se são capazes de enxergar para além do que os olhos podem ver, percebem que a quilômetros dali existem tantas outras estrelas que, tais quais elas, brilham intensamente e iluminam os céus da noite para nós aqui debaixo. Dessa forma, como num colar de pérolas, não se sentem mais sozinhas. – e com a ponta do dedo de marfim, tocou o nariz da garotinha – Não tenhas medo quando então olhares para os lados e veres que ninguém está por perto. Não chores. Olhes mais uma vez para os altos e lembre-se que, de algum lugar uma estrela brilha por ti, pois é isso que fazem as pessoas que se amam: doam seus brilhos umas pelas outras.
E, do modo como ele chegou e nada foi dito, o homem levantou-se sem que nenhuma outra palavra necessitasse ser pronunciada. A garotinha de olhos verdes continuou a fitar o céu e a observar como cada estrela parecia ligar-se magicamente àquela ao lado, formando uma rede que brilhava e iluminava a terra.
Por muito observou as estrelas e ainda hoje as observa. Uma em especial – a estrela-mor, aquela que reflete em azul e parece realizar sonhos – a faz lembrar que seu brilho não deve ser guardado, mas irradiado a todos aqueles a quem contempla em sua rede luminosa. Porque, no fim das contas, é isso que fazem as pessoas que se amam: doam sua luz umas pelas outras.


Nota: Isso me foi contado por ele quando eu ainda era bem pequena. E dali em diante, passei a observar estrelas e o faço até hoje. Acho que, de algum lugar, ele se orgulha.
Em memória à Theo Stein.


T.Stein (Grafin)

2 comentários:

  1. Muitas são as estrelas, e poucos somos os homens.
    GK

    ResponderExcluir
  2. Para dar amor é necessário tê-lo dentro de si. Muito bom. Abraço

    ResponderExcluir

"Escrevo em linhas tudo aquilo que, nas entrelinhas, a alma quer dizer; tudo aquilo pelo qual palpita o coração"
Ajuda-me? É sempre gratificante saber sobre o que pensam outras mentes!